Paulo Malária conta como compôs ''Por quem os sinos dobram''


Em e-mail para o amigo Leandro França da Ondas Fm, Paulo Malária explica como compôs a canção ''Por quem os sinos dobram'', publicada no CD Ninguém Pediu, de 2014.


Grande Leandro, muito obrigado pela atenção, em meu nome e dos colegas de banda.

A história de "Por quem os sinos dobram" tem duas etapas. Em 1980, aos 24 anos, caminhando em direção ao curso de inglês que eu fazia, me vieram à mente os riffs, a primeira parte e o refrão ("Nào é verdade/ Que eu nunca tenha estado aqui/ Conheço este lugar/ Da outra vez que vivi/ Agora eu sei por quem os sinos dobram/ Agora eu sei que eles dobram por mim").

Porém a música, semelhante a outras que compus naquele ano e nunca foram gravadas ("Nada" é presença certa num eventual próximo disco), ficou incompleta. Muito tempo depois, a vida me proporcionou um emprego com um salário bem razoável e decidi gastar parte dele para conhecer o mundo e encontrar o lugar onde eu deveria ter nascido e teria sido feliz. Fiz algumas viagens, desfiz alguns mitos e cheguei à conclusão de que bom mesmo é Australia e Nova Zelândia, onde estive em 2008. Sem nenhum demérito a outros lugares que antes habitavam meu imaginário. É disso que fala a música, especialmente a segunda parte (a primeira parte, das 7 vidas e dos 7 séculos, é um jogo de palavras poderosas e simbólicas preparando para o que virá depois).

"Primeiro eu fui onde contavam maravilhas/ E muito vi, porém não tanta magia", quem me conhece sabe que obviamente se refere aos Estados Unidos, assim como "Depois voei mais longe até a verde ilha/ E me encantei, mas ainda não bastaria" se refere à Inglaterra. Daí segue: "Cheguei a meditar sobre o que John dizia (Lennon foi assassinado no final de 1980, ano em que comecei a compor a música)/ Que só em mim mesmo eu me encontraria/ Mas persisti rodeando o mundo até que um dia/ Na mais distante terra achei o que queria".

Com os recursos do Google pude descobrir que desde os anos 70 já existia uma "Por quem os sinos dobram" gravada pelo Raul Seixas. Tive o cuidado de escutá-la no Youtube e ela não tem nada a ver com a minha, exceto o título. Ora, se for por isso, os Bee Gees e outras bandas também gravaram músicas chamadas "To whom the bells toll" e a inspiração original comum a todas, como sabemos, é o livro de Ernest Hemingway. Daí me senti à vontade para manter o nome da música sem achar que pudesse estar copiando alguém.

É uma música viajante, no sentido geográfico mesmo. Descreve a procura por um lugar e seu encontro. Começou a ser feita a caminho de um curso de inglês que eu já cursava no intuito de percorrer o mundo, e foi terminada 3 décadas depois, falando deste assunto que para mim é tão importante.

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